Ao suspender o depoimento de governadores à CPI da Covid, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, deixou manco o pelotão da cloroquina. A principal estratégia traçada por Bolsonaro para sair das cordas já não fica em pé. O Planalto pretendia empurrar os governadores para o centro do ringue. Rosa informou que a convocação de executivos estaduais pela CPI fere o pacto federativo. Decidiu que, se quiserem, os desafetos de Bolsonaro podem comparecer à comissão como convidados, não como convocados.
A pedido de Rosa, a decisão será submetida aos outros dez ministros da Suprema Corte num julgamento virtual que começa na quinta e vai até sexta-feira. O veredicto deve ser confirmado. Bolsonaro não cultiva o hábito da leitura. Mas deveria desperdiçar um naco do seu tempo correndo os olhos pelo despacho de Rosa. Nele está escrito que a situação dos governadores é semelhante à do presidente da República, que também não pode ser convocado pela CPI.
Quer dizer: Bolsonaro mostra a corda aos governadores sem se dar conta de que pode apertar o nó no seu próprio pescoço. De resto, a CPI havia decidido convocar apenas governadores já encrencados em inquéritos da Polícia Federal sobre desvio de verbas da Saúde. Os senadores chutariam portas já arrombadas.
Ao quebrar o pé do bloco governista, Rosa oferece à CPI a oportunidade de dedicar 100% de suas atenções ao fiasco da gestão Bolsonaro na pandemia. Algo que o procurador-geral da República Augusto Aras não teve interesse em procurar.
Em conversa telefônica com o senador Jorge Kajuru, Bolsonaro pediu ajuda ao interlocutor para fazer “do limão uma limonada” na CPI. O diálogo foi gravado pelo senador. “Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, pra fazer um relatório sacana”, disse Bolsonaro. No linguajar de sarjeta do presidente, a CPI está muito perto de expor sacanagens detectadas na negociação da vacina indiana Covaxin e na aquisição de hidroxicloroquina. Rosa jogou pimenta na limonada de Bolsonaro.
Fonte: noticias.uol.com.br