Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que a atual situação do coronavírus no Brasil se deve ao negacionismo. Em entrevista a O Globo, o hematologista afirmou que a falta de responsabilidade do governo federal contribuiu para a crise e os números alarmantes de mortes por dia. Ontem, o Brasil registrou 4.211 mortes nas últimas 24 horas, primeira vez que superou o patamar dos quatro mil óbitos, segundo dados do consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte.
Na avaliação do médico, uma das soluções deveria ser o cumprimento do isolamento social, o que não tem acontecido. “Não temos uma adesão nacional e um discurso único. Temos muitos discursos, inclusive os contrários a isso. Discursos de autoridades importantes da República que dizem que as pessoas não têm que ficar em casa”, pontuou.
Na entrevista, Covas disse haver um duplo comando da epidemia no Brasil, o da ciência e o do negacionismo.
Na visão do hematologista, o vírus está correndo solto de “uma forma muito tranquila” e a inércia sobre a situação provoca o aumento agressivo de óbitos. “A falta de um discurso unificado e de um entendimento correto do que é a epidemia é fatal”, completou. Em uma tentativa de frear o avanço da covid-19 e preservar a saúde dos brasileiros, o Butantan, desenvolvedor da vacina CoronaVac, atualmente aguarda insumos da China para a produção de novas doses. A expectativa é entregar 46 milhões de imunizantes para o Ministério da Saúde até o fim de abril.
Em seu trabalho no centro de pesquisa, Covas notou uma politização da pandemia e da corrida pela imunização. Por estar em São Paulo, onde o governador João Doria (PSDB) se coloca como oposição ao governo federal, o instituto sofreu pressões externas. “O fato de o Butantan não ter sido contratado no ano passado, ter sido preterido quando ofereceu vacinas ao ministério? Houve uma questão política que atingiu fortemente o Butantan. O governo do estado de São Paulo veio em defesa e usou das armas da política para isso. O fato é que o Butantan neste momento é a espinha dorsal da vacinação no Brasil”, disse.
Além da CoronaVac, o instituto está desenvolvendo a ButanVac. A nova vacina ainda aguarda aprovação da Anvisa para começar os testes em humanos, mas já traz esperança por ser eficaz contra a variante P1, que foi descoberta em Manaus (AM) e é a que mais tem infectado a população de São Paulo.
Fonte: noticias.uol.com.br