No segundo episódio da série Retrato Narrado, a jornalista Carol Pires destrincha a vida militar de Jair Bolsonaro. Conta como ele passou do apelido de “palmito”, devido às canelas finas e brancas, para o de “cavalão”, mas que isso não foi suficiente para garantir uma trajetória brilhante nas Forças Armadas. Por conta do desempenho abaixo da média na sala de aula, Bolsonaro cogitou deixar o Exército. Foi impedido pelo pai, Percy Geraldo Bolsonaro, com o aviso de “vou te quebrar todinho”, caso acontecesse.
Nessa investigação, Carol Pires passa pela Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no Sul do estado do Rio, onde Bolsonaro se formou cadete. Ela ressalta como foi fundamental para a sua formação o fato de ter tido como instrutores militares que perseguiram integrantes da Guerrilha do Araguaia. Com eles, o futuro presidente aprendeu a identificar seus “inimigos”.
Dessa fase da trajetória de Bolsonaro na Academia Militar, Carol Pires também dá destaque ao ingresso na equipe dos paraquedistas. Segundo Maurício Santoro, doutor em ciência política que montou o curso de relações internacionais do Exército, ser um “PQD” teria moldado a personalidade do atual presidente. “Existe uma ideia de que eles [os paraquedistas] são a elite do Exército, de que são uma categoria especial, de que estão prontos pra tudo”, descreve Santoro.
Esse período da vida de Bolsonaro também explica a nomeação de determinados militares para cargos importantes do Executivo, formando o governo com mais militares em posições de liderança desde o fim da ditadura. Um exemplo é o atual chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno, que foi um dos professores de Bolsonaro na Academia.
Além de estabelecer elos entre o cadete e o presidente, o episódio também acompanha o caminho traçado por Bolsonaro: do jovem que se encanta pelas Forças Armadas durante a caça ao ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, um militar insubordinado, até se tornar ele mesmo um militar insubordinado.
E, ao lidar com as consequências dessa insubordinação, Bolsonaro usa uma estratégia que se tornaria recorrente em sua vida política: desacreditar e desqualificar o trabalho de jornalistas, especialmente mulheres.
Ouça aqui:
Fonte: piaui.folha.uol.com.br