Convidado do ciclo “Conversas na Crise – Depois do Futuro”, organizado pelo Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em parceria com o UOL, o ator Paulo Betti deu hoje opiniões fortes sobre o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e a situação política brasileira, que passa por crises constantes em meio à pandemia.
Para o ator, o Brasil se encontra em um momento delicado, antidemocrático e por isso não será nada fácil tirar do poder a nova direita que se instalou em Brasília e em várias regiões do país desde a dissolução do governo Dilma Rousseff (PT). Mas essa deveria ser a missão da sociedade.
“Eles não aceitam o resultado das eleições. Vamos nos preparar. Porque vai ser difícil enfrentar esse pessoal. Primeiro porque eles estão armados”, destacou Betti na conversa comandada pelo jornalista Paulo Markun e participação do presidente do Conselho Científico e Cultural do IdEA Carlos Vogt, da jornalista Cristina Padiglione e da editora de Splash Débora Miranda.
“Participei da produção do ‘Lulalá’ para mostrar que estava contra o Collor. Agora estamos todos do mesmo lado da batalha. Mas não duvide de uma coisa: estamos com medo. Pessoas têm medo de publicar coisas contra o governo na internet. E é justificável ter medo de alguém que tem que identificar e destruir o inimigo”, prosseguiu.
As alternativas ao governo atual, no entendimento dele, ainda não estão claramente definidas, mas o movimento pode começar já nas próximas eleições municipais, a partir, principalmente, do eleitorado jovem. “Temos que lutar bravamente, sem depender de comandos maiores. Não é o Lula e o Ciro [Gomes] que mostrarão o caminho. Nem [João] Doria ou [Luciano] Huck. Quem vai ser?”
‘Mamadores’ da Lei Rouanet
Outro ponto polêmico abordado na entrevista foi a perseguição política à classe artística brasileira por parte da população e as consequências disso para a cultura. Depois de admitir que os artistas falharam em não construir uma base sólida, ele citou o vídeo que viralizou mostrando um casal que ateia fogo em livros de Paulo Coelho, registrado após o escritor criticar o governo de Jair Bolsonaro.
“Nos transformaram em ‘mamadores’ da Lei Rouanet. Isso pegou”, afirmou ele, que também fez uma mea-culpa. “Nós [artistas] ficamos confortavelmente instalados nos nossos ‘star systems’, mostrando nossas casas, piscinas. Casando e descasando. Virando mulher, homem. As pessoas não entendem o que está acontecendo”.
‘Globolixo’
Questionado sobre as críticas feitas ao jornalismo da Globo nos últimos anos, principalmente por parte de apoiadores do presidente, Betti indicou que a TV deveria repensar o formato de seus telejornais. E isso poderia ser feito destacando falas de comentaristas e analistas após a exibição de reportagens, assim como é feito pela própria emissora em seu canal de notícias, “para dar porrada”.
“Não adianta o Bonner olhar para câmera. Ele não seria tão bom ator para expressar tudo que deveria. Tem que ter comentarista que explique o que isso é certo e errado. Como na GloboNews. Fica aquela extensão de textos, de [declarações] de juízes. Aí você dorme”, opinou ele, que ainda se irritou ao falar de idosos que andam sem máscara em Copacabana durante a pandemia, colocando todos em risco.
Fonte: www.uol.com.br