Divulgados em fatias nos últimos dias, os dados da mais recente pesquisa do Datafolha revelam que Bolsonaro converteu-se num presidente hemorrágico. Principal beneficiário do antipetismo na sucessão de 2018, o capitão fornece material para o surgimento do antibolsonarismo, que já se insinua como principal força política da disputa presidencial de 2022.
A maioria dos brasileiros (70%) acha que há corrupção no governo em geral e no Ministério da Saúde em particular (63%). Disseminou-se a percepção de que o presidente sabia das malfeitorias (64%). Significa dizer que Bolsonaro, chefe de uma organização familiar com a imagem rachadinha, faz papel de ridículo quando declara que não há corrupção no governo. Perdeu sua principal bandeira.
Falta um ano e meio para o término da atual administração. Em tese, Bolsonaro teria tempo para se recuperar. Mas seria necessário fechar a usina de crises que funciona em tempo integral no Planalto. Algo que não vai acontecer, pois Bolsonaro continua enxergando no espelho a imagem do melhor presidente que Bolsonaro já viu.
O presidente acha que é uma coisa. Mas sua reputação indica que já virou outra coisa. Até a retórica do “meu Exército”, das “minhas Forças Armadas”, tão entoada por Bolsonaro, é recebida com um pé atrás por 62% dos brasileiros que reprovam a presença de militares em atos políticos, como fez impunemente o general Eduardo Pazuello. A presença de militares em cargos civis da administração pública é criticada por 58% dos entrevistados.
De acordo com o Datafolha, 63% dos brasileiros avaliam que Bolsonaro é incapaz de liderar o país. Pela primeira vez, a maioria dos entrevistados (54%) defende a abertura de processo de impeachment na Câmara. Bolsonaro gabaritou nos quesitos listados pelo Datafolha para medir o apreço dos brasileiros pelo seu presidente. A maioria considera o capitão incompetente (58%), desonesto (52%), pouco inteligente (57%), falso (55%), indeciso (57%), autoritário (66%) e despreparado para o exercício do cargo de presidente (62%).
Há algo de muito inusitado no sangramento de Bolsonaro. As feridas que tornam o governo anêmico foram 100% abertas pelo próprio presidente. A realidade estragou o papel que Bolsonaro mais gosta de desempenhar: o de colocar a culpa nos outros. Escolhido em 2018 como solução para 57 milhões de brasileiros, o capitão chega às portas do ano eleitoral de 2022 como um problema para a democracia brasileira. No seu penúltimo desatino, ele se dedica a difundir a tese segundo a qual não haverá eleições no ano que vem sem o voto impresso. A única coisa que Bolsonaro conseguirá imprimir é um capítulo desastroso da história brasileira.
Fonte: noticias.uol.com.br