Acontece muito com jogadores de futebol ou artistas da música pop. Quando o trabalho é bem-sucedido e tem o reconhecimento do grande público, um ou outro astro adota jeitão arrogante, prepotente e põe-se a dar declarações duvidosas como se fossem pérolas de sabedoria. Diz-se nesses casos que o sucesso subiu à cabeça.
É o comportamento cotidiano de Jair Bolsonaro. Fisionomia fechada, nariz empinado, voz de poucos amigos, o presidente propaga por onde passa suas verdades imaginárias com impressionante desenvoltura. Tem sido assim especialmente quando fala sobre o combate ao coronavirus e a destruição do meio ambiente. A grande diferença é que a ação do governo Bolsonaro nessas duas áreas é um retumbante fracasso.
Na pandemia, o presidente fez campanha contra o isolamento social, trocou dois ministros da Saúde em meio à crise, brigou com governadores, fez propaganda de um remédio inócuo, gastou menos dinheiro do que poderia e não foi capaz de fazer a coordenação nacional que se esperava dele. Resultado: temos 138 mil mortes por covid-19, muitas das quais poderiam ter sido evitadas. No meio ambiente, seu governo reduziu a fiscalização contra os destruidores da natureza, não conseguiu inibir queimadas, mostrou-se solidário com garimpeiros, anunciou apoio à grilagem e foi ineficiente na repressão a invasores de terras indígenas.
Mesmo com esse histórico desastroso, Bolsonaro fala hoje na Assembleia Geral da ONU colocando-se como vítima de uma conspiração internacional. É como se ignorasse a extensa lista de barbaridades que praticou. A ideia é levantar a voz contra as críticas quase unânimes de dirigentes de outras nações, que colocam o presidente brasileiro entre os piores tanto no combate à pandemia quanto à depredação da natureza.
Embora proferidas a integrantes da ONU, as palavras de Bolsonaro têm como endereço os ouvintes de sempre, os mesmos que foram seus eleitores e que depois da eleição mantêm apoio cego a tudo o que faz. O público-alvo é aquele contingente que finge acreditar em todas as lorotas que o presidente fala para justificar os maus resultados.
Os generais do governo que o bajulam elogiarão o negacionismo presidencial exposto ao mundo, enquanto o Pantanal queima, a Amazônia é invadida por garimpeiros e as mortes pela pandemia continuam a crescer. Aos pobres ouvintes de outros países, presentes à Assembleia Geral, restará a perplexidade ou o riso, diante da performance bolsonariana. Nenhuma das duas reações, infelizmente, deixará entre os líderes mundiais boa impressão do Brasil. Bolsonaro, como se sabe, não dá a mínima para isso.
Fonte: noticias.uol.com.br