O depoimento da médica Luana Araújo à CPI da Pandemia mostra que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é um mero fantoche do presidente Jair Bolsonaro. Ela ocupou por 10 dias a Secretária Extraordinária de Combate à Covid-19. Foi derrubada do cargo por ordem de Bolsonaro porque se opõe ao tratamento precoce e à cloroquina no enfrentamento da pandemia. Queiroga não tem a autonomia que teria prometido à médica.
Luana Araújo dá uma contribuição à CPI da Pandemia semelhante à de Dimas Covas, presidente do Butantan, que falou na semana passada. A médica demonstra um grau de compreensão da pandemia que vai na direção correta. Defende medidas efetivas para minimizar o problema. Sua fala contrasta com a de Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde que deu depoimento negacionista na semana passada e continua firme e forte no cargo.
Com declarações sobre a ineficácia da cloroquina e os riscos do uso do medicamento contra a covid-19, Luana Araújo esclarece a opinião pública sobre os riscos de obedecer às recomendações negacionistas de Bolsonaro. Como fez Dimas Covas na CPI, ela ajuda o país a entender melhor que a responsabilidade pelo agravamento da pandemia é do presidente da República.
Mais gente morre e adoece no Brasil sem necessidade porque Bolsonaro desprezou a compra de vacinas e sabota medidas de mitigação, como o uso de máscara e o distanciamento social. Por tudo o que Luana Araújo está falando na CPI, seria uma questão de tempo deixar o cargo no Ministério da Saúde. As posições que expõe sobre a pandemia mostram que seria impossível trabalhar com Queiroga, poupado por ela no depoimento, e Bolsonaro. Ciência e bolsonarismo não combinam. Todos sabemos disso.
O senador Humberto Costa (PT-PE) tocou num ponto importante. Luana Araújo foi vítima de um engano: achou que seria possível trabalhar num governo negacionista. Boas intenções não bastam. Quando fala em “polarização” e “patriotismo”, ela deixa claro como caiu na armadilha. Faltou visão política. Luana Araújo poupou o CFM (Conselho Federal de Medicina) quando falou na CPI que médicos do país foram expostos. O que o CFM faz ao passar pano para cloroquina é crime contra a saúde pública e endosso ao negacionismo de Bolsonaro.
“Nem gosto da palavra negacionista para dizer a verdade”, diz Luana Araújo. Ora, é negacionista a forma como Bolsonaro age. É preciso chamar as coisas pelo nome. Se considera que o Brasil vive hoje um “iluminismo às avessas” e está na “vanguarda da estupidez”, como falou na CPI, deveria ter recusado o convite de Queiroga. Para ocupar um cargo público, é preciso preparo técnico, o que ela demonstrar possuir. Mas também é necessária uma compreensão melhor da política, algo que parece lhe faltar.
Fonte: noticias.uol.com.br