A cidade de São Paulo está voltando a atingir índices de isolamento social semelhantes aos do começo da pandemia do novo coronavírus. Na última sexta (4), a taxa chegou a 38% —a menor desde o início de março. Esta queda se dá quando a capital atinge um nível de ocupação UTI (Unidade de Terapia Intensiva) perto dos 60% —índice semelhante ao registrado no pico da pandemia, em junho. A Prefeitura de São Paulo diz investir na fiscalização, para evitar aglomerações.
A quarentena decretada pelo governo de São Paulo começou em 21 de março. Até o fim de maio, as taxas máximas de isolamento na capital, geralmente registradas aos domingos, ficavam entre 59% e 57%, enquanto as mais baixas, no meio da semana, variavam de 46% a 48%. Até outubro, o índice de isolamento na cidade não ficou abaixo dos 40% —considerado preocupante pelo governo estadual— nenhuma vez. Só em dezembro, isso já ocorreu em cinco dos oito dias rastreados. Em 38%, no entanto, não ficava desde 17 de março, na última semana antes do anúncio oficial da quarentena no estado.
O monitoramento é feito pelo SIMI-SP (Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo), do governo estadual em parceria com as operadoras de telefonia móvel. Como na capital, a média estadual também tem caído e, entre novembro e dezembro, voltou a figurar abaixo dos 40%, o que também não acontecia desde março.
Em meio ao aumento de internações
A queda no isolamento social na capital se dá em meio a uma escalada no número de internações na cidade. Segundo o boletim epidemiológico divulgado na ontem (9), 59% dos leitos de UTI estavam ocupados. A taxa é semelhante à anotada no meio de junho, período considerado pico da pandemia na capital até então. Naquele mês, a taxa de isolamento variou de 46% a 54%.
Não é coincidência, diz especialista
Domingos Alves, professor da FMUSP-Ribeirão (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto) diz haver uma relação direta entre a queda no isolamento e o aumento nas internações e que o reconhecimento da gravidade é o primeiro passo. “Não é coincidência. É um cenário similar ao que a gente estava vendo em junho, com maior circulação, e as autoridades negando”, afirma Alves, em referência às declarações de normalidade do prefeito Bruno Covas (PSDB) durante as eleições municipais.
“Agora, a primeira coisa que se tem de fazer é o reconhecimento pelos gestores estaduais e municipais de que estamos em um estágio grave da pandemia”, afirma Alves. Ele diz que talvez não seja preciso tomar “medidas drásticas”, como toques de recolher, mas não se pode “continuar a negar a segunda onda e esperar pela vacina”. “Não precisa voltar a fechar tudo. A gente pode aumentar testagem, fazendo o rastreamento [dos infectados]. Mas o que não dá é fingir que está tudo bem. Com as compras de final de ano, a taxa de ocupação de UTI, que está em 60%, pode ir para 90%, 95%, como já acontece em algumas cidades”, alerta o professor.
Fase amarela para conter queda
Como resposta ao aumento de internações e queda do isolamento, na semana passada, um dia após o segundo turno das eleições municipais, o governo estadual anunciou o retorno de todo o estado à fase amarela do Plano São Paulo, que prevê diminuição no horário de funcionamento do comércio.
“O respeito às recomendações do Centro de Contingência e ao Plano São Paulo, bem como todos os protocolos sanitários por parte da população, são fundamentais para evitar a transmissão do novo coronavírus e, consequentemente, que mais pessoas adoeçam e necessitam de atendimento hospitalar”, declarou a Secretaria Estadual da Saúde, em nota. Para garantir a diminuição da circulação, a Prefeitura da capital diz ter aumentado a fiscalização de estabelecimentos e possíveis locais de aglomeração.
“Os centros de comércio popular também recebem atuação diária das equipes das subprefeituras, com apoio da GCM [Guarda Civil Metropolitana] e da PM [Polícia Militar]”, informou a prefeitura ao UOL. “Desde o início da quarentena, 1.288 estabelecimentos foram interditados por descumprirem as regras vigentes, com multas de R$ 9.231,65 a cada 250 metros quadrados.”
Fonte: noticias.uol.com.br