“Na pandemia, o Brasil optou por outro caminho”. A avaliação é de Asher Salmon, chefe do Departamento de Relações Internacionais do Ministério da Saúde de Israel, que defende um envolvimento da máxima liderança de um país para garantir que uma campanha de vacinação contra a covid-19 funcione. Na semana passada, o governo brasileiro enviou uma missão para Israel, liderada pelo chanceler Ernesto Araújo. Acordos foram debatidos para trazer para o país testes de um spray nasal desenvolvido por cientistas israelenses contra a covid-19, além de uma aproximação em outras áreas científicas e na produção eventual de vacinas.
Em entrevista nesta segunda-feira a um grupo restrito de jornalistas internacionais na ONU, Salmon explicou detalhes dos encontros com a missão brasileira. Insistindo que Israel precisava ser “humilde” diante da dimensão da tarefa no Brasil ou países com populações enormes, ele indicou que explicou à delegação de Araújo a estratégia nacional de seu país. “Apresentei o que fizemos, quais foram os dilemas e como tomamos decisões. Apesar de termos sofrido pela pandemia, o Brasil optou por tomar um outro caminho que nós, na forma que o governo lidou com a pandemia”, disse Salmon.
O representante do governo de Israel não entrou em detalhes. Mas, ao longo dos últimos meses, o governo de Benjamin Netanyahu adotou regras duras de confinamento, exigiu máscaras e fechou as fronteiras do país para turistas. Também houve um esforço importante para testar e isolar as pessoas contaminadas, na esperança de quebrar a cadeia de transmissão. Assim que a crise começou, o governo local ainda mergulhou em negociações para a compra de vacinas, com as primeiras reuniões já ocorrendo em abril de 2020.
Segundo Salmon, depois de uma campanha ampla de vacinação iniciada no final de dezembro, o país começa a recuperar uma “vida normal, tanto em termos sociais como econômica”. De acordo com os números apresentados por Salmon, dos 9 milhões de habitantes do país, 5,1 milhões já receberam a primeira dose e 4,2 milhões já receberam as duas doses do imunizante. Entre as pessoas acima de 50 anos de idade, 90% deles já foram vacinados.
Esforços conjuntos para desenvolver vacina
O representante da pasta de Saúde explicou que o Brasil se mostrou interessado em se unir aos testes clínicos de uma vacina que está sendo desenvolvida em Israel e que está no final da Fase 2. Salmon também destacou como a delegação brasileira estava interessada no spray nasal, desenvolvida por uma instituição local. Nesse caso, ele foi claro que ainda se trata apenas de uma promessa.
“Não sei se é prematuro para algo”, disse o israelense. “Mas foi acertado poderia se unir”, comentou. Uma terceira linha de trabalho seria uma cooperação entre os dois países para promover uma linha de produção de vacinas, usando a capacidade de fabricação do país. De acordo com Salmon, o próximo passo entre os dois países será o de acertar acordos sobre a forma pela qual o Brasil quer participar dessas iniciativas.
Recomendações sobre vacinas: necessidade da liderança máxima
Questionado sobre o que recomendaria ao Brasil, o representante do governo de Benjamin Netanyahu insistiu sobre a necessidade de uma estratégia coordenada de vacinação. “A vacinação é um esforço nacional e deve ser planejado e operacionalizado de forma centralizada. E os sistemas de compras devem ser um assunto do governo e mesmo da alta liderança do país”, defendeu.
Salmon conta como começou a negociar com as empresas farmacêuticas ainda em abril de 2020 e que o processo foi “duro”. O primeiro acordo foi fechado com a Moderna, em meados de 2020. Já para um acerto com a Pfizer, foi necessário o envolvimento do próprio Netanyahu. De acordo com ele, portanto, uma estratégia de vacinação envolve até mesmo a liderança do país na obtenção de vacinas. O representante do Ministério da Saúde de Israel, porém, insiste que investir em vacina compensa. “Mesmo que seja elevado, o preço de uma dose é nada em comparação ao custo do lockdown”, afirmou. “A vacinação total é mais barata que um dia só de lockdown num país”, insistiu o representante do governo.
Para ele, outro segredo de uma campanha de sucesso contra a covid-19 é um freio real à desinformação e a criação de confiança entre a população e as lideranças do país. Apesar do sucesso total de sua campanha, Salmon indica que uma das lições da imunização em Israel é de que governos precisam manter medidas sociais, mesmo depois de uma ampla campanha de vacinação. “A vacina não representa 100% de proteção e precisamos manter medidas de proteções”, insistiu.
Covax está patinando
Na avaliação de Salmon, governos devem pensar em garantir uma maior distribuição de vacinas para países em desenvolvimento. Mas lamenta que a iniciativa da OMS, a Covax, tem sido lenta. “Infelizmente, a iniciativa sofre por conta da burocracia, falta de transparência e de eficiência”, criticou. Apesar de a iniciativa ter tido seu início no final de fevereiro, o Brasil ainda não recebeu suas doses. A coluna apurou que uma das previsões é de que o país receba 1 milhão de doses na última semana de março.
Fonte: noticias.uol.com.br